Agostinho da Silva – A primeira ambição que os portugueses do século XIII trouxeram ao mundo foi a de um futuro em que se seja livre de ser o que se é.
A segunda foi a de haver a tal vida livre de pagar, vida gratuita, de que a economia se aproxima: Hoje há muito desempregados, podem viver à vontade.
A terceira: Não haver cadeias, parece que eles achavam que se as crianças não fossem deformadas e se houvesse vida gratuita, a respeito de crimes estamos conversados: Não havia crimes. Eles não achavam, que houvesse outra origem para o crime, senão as deformações apanhadas pelos jovens, e por outro lado a pressão que a economia exerce sobre as pessoas, os pesadelos que dá a cada um.
André Amaral – Então não devia haver economia e todas essas organizações?
AS – Vou-lhe dizer assim: Acabava de haver pedagogia e a economia, hã? Não havia mais essa história, e a criminologia, como consequência, não é assim?
AA – Um bocadinho difícil, agora...
AS – Meus caros amigos, eu estou-vos a dizer o que os portugueses do século XIII queriam...E pergunto agora: Há gente contra que a criança, possa crescer livremente, num mundo também livre dessa questão da economia? Eu acho que fundamentalmente não há. E por isso, até já estão surgindo reformas pedagógicas, e todas as reformas pedagógicas são feitas para dar liberdade à criança, não é?... O que não quer dizer que na realidade isso venha a existir, por exemplo, o ministro da educação fez agora as escolas culturais, e o que está a acontecer? As escolas culturais estão desaparecendo, porque a máquina burocrática do ministério da educação aproveita todas as possibilidades de dar cabo disso. Para mim a burocracia não dá para aquilo e aquilo não dá para a burocracia...bem...mas estão-se, agora fazendo escolas com mais liberdade, no meu tempo só se desenhava o que a professora desenhava primeiro no quadro para toda a classe...E agora já há muita liberdade para um sujeito desenhar o que quer, escrever o que lhe apetece. Bom segunda coisa, já a economia está muito mais perto da vida gratuita do que eles tinham. Os coitados (os homens do sec. XIII) não produziam o suficiente, portanto, como se faz hoje: Se se quiser mandar para o Sudão ou para Moçambique, que têm fome, toneladas e toneladas de comida, manda-se. Portanto já estamos mais perto de uma economia que chegue para todos, não é? De facto a diferença que há entre o sec XIII e o sec XX é enorme, e como a máquina, o maquinismo, o sistema que deu esse processo, se está acelerando, é possível que no 3º milénio, ou no quarto milénio, um milénio a mais ou a menos, não faz diferença, se possa ter atingido essa economia que chegue para todos...
(...)
AA – Já agora que estamos a comemorar os descobrimentos portugueses, como é que acha que seria a melhor maneia de o fazer?
AS – É propondo os descobrimentos do futuro.
AA – E que descobrimentos são esses?
AS – São muitos. É descobrir a tal coisa: Como é que a gente pode ter as crianças sem serem deformadas, como é que podemos dar de comer a toda a gente sem eu ter de pagar, acabar com as cadeias: Isso é que são os descobrimentos do futuro.
AA – As pessoas agora, a juventude por exemplo, para conseguirem um bom futuro durante a sua vida, uma vida estável e financeiramente razoável, têm de se sujeitar a certas organizações, começar a estudar...
AS – Não, nada disso. Por exemplo, vocês já têm os desempregados. A grande levedura que apareceu no mundo, foi o desemprego; Sabe, enquanto não apareceu a levedura não havia bom pão, e um dia o padeiro esqueceu-se do pão da véspera, deixou secar a massa e, como não estava ali nenhum freguês disse: “Vou intrujar o freguês, vou aproveitar esta massa de qualquer jeito.” Misturou-a com a massa do dia e fez ali um pão que foi um êxito. E como é que veio o desemprego ao mundo? Da mesma forma: Um homem, a certa altura, no sec XIII, instalou uma firma de costura com dez costureiras. Esse homem não morreu, continuou no sec XIV e, vem o vizinho dizer-lhe: “O senhor não quer ver uma coisa que lá tenho e que consegui fazer? É uma maquinazinha que cose.” O homem foi lá e viu e “quanto é que você quer pela maquinazinha?” O outro diz-lhe. Fez as contas todas e disse “Dá-me para comprar a maquinhinha , despedir três costureiras e daqui a um ano paguei a maquininha e estou ganhando dinheiro, não pagando as costureiras.” Fez isso.Depois, no sec XV, veio outro vizinho e disse “Olhe que eu descobri uma maquina melhor que a que você têm, sabe?” Até que de repente, ele chegou a uma altura em que pôs um software, um programa de computador e continuou a fazer aquela roupa toda. Ele está contente? Não está! Porque tem de pagar subsidio para o desemprego de todas as costureiras que dispensou durante 5 séculos. Aí um dia já se sabe, ele andou a juntar dinheiro, para agora ter de o gastar todo. E agora qual será o futuro, devido à divida que há no mundo, de toda a gente a qualquer outro, inclusive a América, cujo o deficit orçamental é enorme, portanto vive de dinheiro emprestado. Há qualquer coisa que não vai aguentar: Ninguém vai pagar milhões e tal de dólares a ninguém no mundo. Rebenta! E vai-se passar por um período muito interessante, em que um tipo que vai comprar um livro, tem de levar bifinhos, para trocar com o homem da livraria, porque a respeito de dinheiro...
Obrigado André
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