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Andamos tantas vezes desiludidos, desacreditados, ou acreditando no inacreditável, de que quem se dedica á cultura, ou é um "parasita" ou é "subsídio-dependente" dos apoios "caridosos" do Estado, dos Institutos (do Estado), das Câmaras Municipais (excluindo a do Porto), de alguns Mecenas, e de algumas empresas interessadas nos benefícios fiscais (entre as quais, faça-se justiça, uma minoria que faz desse apoio uma aposta estratégica). Salvo alguns raros "carolas das artes" que se auto-financiam, e que tendo ou não pais ricos, (ou tendo, ou não ganho a lotaria), investem dos seus próprios recursos, o que tem e não tem para continuar contribuindo para o "bem comum" que é a cultura.
Tudo isto para dizer que se não tivesse lido pelo menos três vezes não teria acreditado!!! - foi capa do Público, "CULTURA COM MAIS PESO NA ECONOMIA EUROPEIA DO QUE SECTOR AUTOMÓVEL". Este foi o tema de destaque escolhido, na edição de ontem, e que no interior abre com um titulo ainda mais elucidativo - "É A CULTURA, ESTÚPIDO!" - para se referir a um estudo da União Europeia que faz uma avaliação (económica, diga-se, e pasme-se!) sobre o contributo das actividades culturais para o PIB da comunidade Europeia.
Não vos vou maçar com transcrições na integra do artigo, que podem ler, se acederem ao link que vos indico. No entanto não quero deixar de, a partir notícia, fazer o meu comentário sobre este tema, tantas vezes desprezado e maltratado pelos "poderes" instituidos no nosso, e noutros países.
Para quem, como eu, se dedica desde a sua juventude à cultura (no sentido mais lato), e ouve anos e anos a fio, de que a cultura é uma coisa subsidiária da economia de um país, que o dinheiro gasto com a cultura é um custo e não um investimento, é reconfortante ler notícias assim!
Quero manifestar o meu regojizo por saber, ao contrário do que apregoam nos últimos anos muitos arautos da gestão, das finança, do neo-liberalismo, das mentes obcurantistas, dos opinion-makers, dos "marketeiros", que a cultura confirma neste estudo o seu papel indesmentível para o desenvolvimento humano, em particular na Europa.
Que os artistas, escritores, poetas, criadores, designers, arquitectos, programadores culturais, fotógrafos, realizadores de cinema, e tantos e tantos milhares de talentos, saibam elevar a sua auto-estima. Que vejam finalmente reconhecido o seu contributo inestimável para o crescimento e a sustentação da economia da Europa, berço da cultura Ocidental. Que nunca mais esqueçam que o seu papel é mais importante que alguns dos mais previligiados sectores económicos, beneficiários de largos milhões de euros dos Estados da União, como o sector automóvel (largo contribuidor para as alterações climáticas), e que o resultado do seu trabalho é gerador de verdadeira riqueza, não só imaterial, como material e tangível, reflectida na capitalização económica de um país.
Que saibam defender o direito à cultura, a partir desta realidade indesmentível, como um dos mais elementares direitos humanos, gerador de igualdade e de desenvolvimento para os povos.
Que deixemos a "vergonha", a "culpa" de lado, e de uma vez por todas assumamos orgulhosamente (nunca esquecendo a humildade) de que como agentes culturais, somos criadores de riqueza, e que esse capital (incalculável para lá de todos os estudos), é merecedor de respeito, e mereçe ser apoiado, pois só poderemos continuar concretizando o sonho de evolução da humanidade, que caminha para uma outra consciência social, mais justa e mais equitativa.
Que saibamos exigir àqueles que nos representam e detém o poder político e económico, as devidas contrapartidas, apoios e investimentos, que espelhem o contributo que damos ao desenvolvimento da Europa (a França lidera com 3,4 e Portugal com 1,4 por cento do PIB). Que os governos, e os organismos europeus, os orgãos de decisão da CE, em particular os que tutelam as finanças, reflictam sobre este estudo, e tomem medidas concretas, e passem à acção.
Que tenhamos o merecido investimento na cultura, que mais do que exigência, é uma necessidade indispensável, para a sustentabilidade das economias europeias, e um inestimável (e agora, indesmentível) contributo para o desenvolvimento sustentável do Planeta.
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Este Post foi publicado em simultâneo no blog "Semear Criatividade"
1 comentário:
Fico pasmado, mas confesso que sou um ignorante em matérias de PIB.
Por exemplo, já fiz parte dum grupo de Teatro Universitário. Gastámos uma parte considerável dum orçamento proveniente do Estado (que era escasso diga-se), mas os únicos outputs que tivemos foi apresentar cultura à cidade, formar pessoas e mais importante que tudo, promover alguns momentos bons e alegres quer ao povo quer àqueles que nas produções participaram.
Talvez não seja mau mesmo assim continuar a ler as coisas mais em valores e menos em economias...
E obrigado pela tua entrada desde já!
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